Pirespace

Aqui é meu espaço. Crônicas, notícias, contos, bons textos, péssimos textos e literatices do gênero. Letras unidas de maneira que produzam algum significado, ou não.

17 agosto, 2006

O INÍCIO DO FIM

Eu lembro onde tudo começou. Lembro exatamente onde tudo começou. Foi há, aproximadamente, quatro anos. Talvez um pouco mais, ou um pouco menos. Mas eu me lembro. O sol nasceu tão radiante quanto o meu despertar. Ao abrir a janela do quarto, deixei que sua luz invadisse o ambiente.

Como a vida é cruel. Como saberia eu, que aquele era justamente o dia do início do fim. Um dia tão belo. Eu pensava que o fim viria em um ambiente bucólico, num dia escuro com uma fina chuva e um vento frio, como nos filmes americanos. Mas não, o fim veio justamente em um dia de sol, daqueles que nos dá mais vontade de viver.

Após uma boa refeição, eu começava a me preparar para mais uma batalha. Confiante como um leão que estuda os movimentos da sua presa, só esperando a hora do embate. Tranqüilo como poucas vezes estive em uma situação como esta.

Quem temia era justamente a parte contrária, já abalada pelas derrotas nos últimos embates. No entanto o orgulho mata um vencedor. Não somente o seu, mas principalmente o orgulho ferido do inimigo. Esse traz forças, revigora e com a disciplina da derrota o faz levantar e dar volta com mais força.

O orgulho do vencedor não, esse só dispersa o guerreiro, o faz esquecer da humildade necessária na batalha. O orgulho vencedor subestima a força do adversário e faz o vencedor esquecer da disciplina e do treinamento como se a vitória fosse algo eterno.

Na hora marcada, me dirigi até o local da batalha. Não era eu quem iria lutar, mas meu guerreiro era praticamente imbatível perante o adversário do dia, ainda mais lutando em seu território. Cheguei um pouco tarde, debochando do adversário, o que me deixou em uma posição desconfortável para presenciar o embate.

No início da batalha percebi a evolução do adversário. O seu vigor não era o mesmo de batalhas anteriores. Ele estava mais forte, mais bem postado e mais agressivo. Fiz de conta que estava tudo certo até o golpe final. O grito abafado dos poucos adversários me abriu os olhos.

Após o apito tive que engolir aquela derrota a seco. A treze jogos o grêmio não perdia um grenal, e após aquele jogo confesso que o inter se agigantou e o grêmio mergulhou em sono profundo. Perdemos em casa com um gol do Danielo Carvalho. O bar onde assisti ao jogo estava tomado de gremistas que se retiravam cabisbaixos. No momento me pareceu só uma derrota, um acidente de percurso, mas era muito mais que isso, era o início do fim. E há, aproximadamente, uma hora atrás eu me dei conta de que está tudo chegando ao fim do fim. O inter se organizou, se fortaleceu e se impôs. Sendo premiado com um título da América. Agora, como bons guerreiros devemos admitir que o momento é deles, o momento é do inter.

Mas “pelamordedeus”, não coloquem um manto vermelho sob o “laçador” de Porto Alegre, isso vai doer na alma desse guerreiro.

08 agosto, 2006

PARANÓIAS DA IDADE DA PEDRA

“Vai chegar um ponto em que teremos que voltar pra era das cavernas. Teremos que voltar pra idade da pedra.” Ele disse. Após uns trinta segundos de um diálogo perdido.

O que esse cara quis dizer. Eu me perguntava. A afirmação veio após um curto diálogo do qual eu não prestava atenção, apenas balançava a cabeça tentando demonstrar interesse enquanto pensava em outra coisa.

Após dizer isso ele se virou pra frente com o olhar fixo, como se olhasse pra dentro de si mesmo. Após alguns segundos pegou a garrafa de cerveja que estava na mesa à nossa frente, encheu seu copo, tomou alguns goles e foi ao banheiro.

“Voltar pra idade da pedra”. Eu me perguntava que raio de situação nos obrigaria a voltar à idade da pedra. Tentava me lembrar do que estávamos falando, deveria ser algo sério. Mas a embriaguez havia trancado as portas das minhas lembranças mais recentes.

Pensei em perguntar o que ele queria dizer, mas agora era tarde. Ele poderia pensar que eu sou meio maluco. Além do mais eu não o conhecia, foi falta de educação da minha parte não prestar atenção no que ele falava. Mas foi apenas por um breve momento, ele falava coisas interessantes, parecia ser inteligente.

O que foi? – perguntou minha mulher que estava ao meu lado. Respondi, deseducadamente, que não era nada. Não consegui parar de pensar naquela frase, aquilo tinha despertado a minha curiosidade. Além de me deixar preocupado. E se, realmente, tivermos que voltar à idade da pedra? Esse cara já havia me alertado. E eu nem sabia o motivo. Que porcaria de educação é essa, quando a usamos nos enchem o saco, quando a perdemos nos passam informações vitais.

Acendi mais um cigarro, enquanto avistava o “profeta” saindo do banheiro. Ele foi de encontro a um amigo dele que eu também não conhecia. Esse sim parecia um sujeito estranho, às vezes parecia conversar sozinho, tocava instrumentos imaginários, e dançava como se estivesse sozinho na festa, me aparece cada um.

Após alguns instantes ele se dirige a mim novamente e me cumprimenta dizendo que estão “indo nessa”. Pensei em alguma tentativa de arrancar mais uma pista que fosse, sobre o tal assunto mas não adiantava era tarde demais, deveria ter sido mal educado mesmo e ter perguntado antes. Após os cumprimentos o desgraçado foi embora e levou consigo minha última esperança de dormir tranqüilo nos próximos dias.

Bom, se agora estivesse na idade da pedra, talvez estivesse rodando umas madeirinhas para fazer fogo, fugindo de plantas carnívoras ou caçando dinossauros, em vez de encher a cara e pensar em desastres. É, algum dia seremos obrigados a voltar pra idade da pedra

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